Cultura na Vila da Juaba – CAMETÁ – PA

A Vila da Juaba se encontra na cidade de Cametá-PA, fundada no início do século XX, na beira do Rio Tocantins. Seu surgimento se dá após a abolição com o abandono do Quilombo do Mola por parte dos quilombolas. Aos poucos esta vila ribeirinha passou a ser o centro de encontro dos moradores da região. Se trata de uma vila simples de extrema riqueza cultural que, como outras diversas comunidades do nosso País, vive à margem dos interesses públicos e privados.
Por três vezes o Selo Mundo Melhor esteve na vila, duas delas para a festa de Nossa Senhora do Rosário feita pelo Bambaê do Rosário (em 2006 e 2008) e uma vez para uma edição (de 2007) do Festival de Cultura que existe na vila a mais de vinte anos.
Várias das manifestações culturais da Vila de Juaba vivem à beira da extinção pela falta de uma verdadeira política pública de conservação cultural e pelo escasso interesse das gerações mais novas em darem prosseguimento às tradições. O intento de nossos registros, além do interesse musical e artístico, é também o de instigar a atenção das pessoas da própria vila, do Estado e do nosso País para estas tradições que aqui trataremos:

– Ladainha
Serviço religioso realizado por pessoas da comunidade, consiste numa Missa em latim a 4 vozes. Atualmente esta manifestação não tem tido prosseguimento, este registro foi feito especialmente para o Selo Mundo Melhor.

Ladainha a 4 vozes
[audio:https://selomundomelhor.org/PESQUISA/Ladainha-Vila_da_Juaba/Ladainha.mp3]

Ladainha para Santo – Vila da Juaba – Cametá-PA 2008 from Alfredo Bello on Vimeo.

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– Bambaê do Rosário

Tradição religiosa afro brasileira em louvor a Nossa Senhora do Rosário que possui muitas semelhanças com os Congos e Moçambiques de outras regiões do País. As pessoas mais velhas da comunidade contam que a festa veio do Quilombo do Mola para a vila da Juaba trazida pela líder negra Maria Piriá, que era a chefe do grupo. Felizmente, esta festa perdura até nossos dias e conta com transformações que a modernizam e atualizam, como a presença de mulheres dançantes, conquista de menos de vinte anos.
A festa de Nossa Senhora do Rosário realizada em Outubro é a mais importante da vila, apesar da vila ter como padroeiro São José. Nos dias da festa pessoas que moram longe voltam para rever parentes e festejar o Rosário de Maria. Atualmente a Irmandade do Rosário, que por tradição e história é quem organiza a festa, tem enfrentado problemas junto à Igreja de Cametá que vem tentando assumir o comando da festa. O mesmo ocorre em outras localidades como em Osório-RS, onde a igreja tenta dirigir a festa, desrespeitando a organização do Moçambique e a tradição da Irmandade.

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O festejo começa com uma romaria fluvial que forja a busca da imagem da santa pelas ilhas no rio Tocantins. No mesmo dia dá-se início ao Novenário que prossegue até o penúltimo dia da festa. Durante esses dias ocorre a busca do rei e da rainha em seus palácios para participarem da novena. O rei e rainha deste festejo são caracterizados sempre por crianças que estão pagando promessa para Nossa Senhora do Rosário; da mesma forma acontece a participação dos dançantes. Dança-se de acordo com a promessa (um ou dois anos, ou como foi prometido ao santo), em alguns casos o dançante “pega gosto” pela dança e segue nos festejos, como são os casos de Seu Loló, Toró (que hoje que toca caixa e faz a segunda voz com seu Loló), Donga, Seu Dilo, Josilene e todos os outros que ainda mantém essa tradição.
Durante a festa os brincantes esmolam pela vila e, com os donativos recolhidos, fazem leilão no último dia do festejo. É no penúltimo sábado de Outubro que acontece o grande dia da festa, às 6 da manhã dá-se início a uma lindíssima alvorada que dura 15 minutos com o céu ainda escuro. Ao final da Alvorada, que coincide com o nascer do dia, os participantes cantam a quatro vozes. A polifonia vocal nos parece ser realmente uma característica especial desta comunidade, uma possível elucidação para este fenômeno pode ser a entrada da Missa da Ladainha no Quilombo do Mola que teria influenciado todas as tradições culturais desta comunidade, como observamos em outras comunidades do Pará.

Alvorada do Bambaê do Rosário
[audio:https://selomundomelhor.org/PESQUISA/Ladainha-Vila_da_Juaba/Alvorada_do_Bambae_do_Rosario_25-10-2008.mp3]

Após o Alvorada todos voltam para casa e as 9 da manhã vão ate o Palácio do Rei e da Rainha buscá-los para a Missa. Após a Missa os levam de volta ao Palácio e oficialmente acaba o “Reinado deste ano”, mais atarde ainda temos a procissão pela vila, aonde vemos as crianças vestidas de Saci,que são mães pagando promessa para N S do Rosário, após a procissão o Bambaê vai para a praça e se despede até o próximo ano.
“ A despedida do bambaê,
Até para o ano
Se nós não morrer”
Onde todos se confraternizam e voltam as suas vidas normais.

Veremos em duas partes o vídeo da Alvorada do Bambaê

– Samba de Cacete

Manifestação musical que servia normalmente como preparativo para os mutirões de colheitas. O início desta brincadeira se dava na noite anterior à colheita, primeiro re\avam uam ladainha dedicada Santo, como a que ouvimos acima, depois os brincantes dançavam até a manhã seguinte, nos intervalso tinham essses cantos como novídoe abaixo, algo próximo de um Aboio de roça, também realizado com abertura de vozes pela manhã seguiam diretamente para colher o plantio da família que promove o mutirão. Dependendo do tamanho da terra esse mutirão poderia durar mais dias. Sabemos da existEncai dessa manifestação em outras localidades da região, porém entrando em desuso pelo fim dos antigos mutirões comunitários. Segundo pesquisa realizada junto aos brincantes do Carimbó da região do Salgado, o Carimbó teria surgido também como música de mutirões.

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– Banguê

Essa é uma antiga dança de salão, de origens anteriores à chegada da eletricidade e do rádio. Se trata de uma música com instrumentação variada, instrumentos de cordas, violão com função de violão de 7 cordas, banjo, cavaco e várias percussões como pandeiros, cuícas e reco reco. No Bangüê permanece a riqueza das 4 vozes. Com a perda da função social do divertimento, o Bangüê vive atualmente uma situação de abandono e esquecimento. Existem hoje em dia dois grupos na vila da Juaba, o Pingo de Ouro 1 e o 2. ((Será um outro post))

– Boi Bumbá Campineiro

Segundo a própria comunidade da vila, este boi existe a mais de 70 anos. Este também é um registro especial, pois a brincadeira não se realizava a mais de um ano e meio. Organizou-se uma pequena brincadeira para este registro do Selo Mundo Melhor na casa de seu Loló, que é, além de Amo do Boi Campineiro, líder do Bambaê do Rosário desde que Seu Procópio, pessoa muito importante na comunidade, se afastou por motivos de saúde. Aqui vemos um vídeo com o Boi e suas características peculiares.

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Esse boi possui uma característica especial: a ausência de tambores. Esta particularidade é intrigante, pois esta comunidade costuma usar os tambores em todas as outras manifestações com instrumentos, o que é certamente um reflexo de suas origens de quilombo. Nos pareceu fortemente provável uma influência indígena nessa brincadeira, graças a uma possível convivência entre índios e negros no Quilombo do Mola. Assim como as outras manifestações musicais, aqui também é presente a polifonia vocal. O repertório deste boi é próprio e em nada nos lembra o Boi do Maranhão e verificamos a presença do Auto da Matança do Boi com todos os personagens da brincadeira.

(( Em breve virá o material sobre o boi.))

25 respostas para “Cultura na Vila da Juaba – CAMETÁ – PA”

  1. ADOREI O CONTEUDO DO SITE….MOSTRA COMO REALMENTE NOSSA CULTURA JUABENSE É TÃO RICA, PORÉM MUITAS VEZES ESQUECIDA ATÉ MESMO POR NOS QUE MORAMOS AQUI NO JUABA E NAO APREDEMOS A VALORIZAR O QUE É NOSSO , APENAS O QUE VEM DE FORA ( culturas alheias) POR FALTA DE POLITICA PULBLICA, E RIDICULARIZAÇÃO DO QUE É NOSSO.
    PARABÉNS PELO TRABALHO….

  2. Essa é minha terra querida, terra de povo hospitaleiro, que recebe todos de braços abertos. É a terra do Bambaê, da Bicharada, do Samba de Cacete, do Engole Cobra, da Dança dos Negros e outras tantas,somos a terra da cultura fazendo arte mostramos a nossa personalidade e através de nossa personalidade a cultura de um povo. Povo este que ostenta com orgulho a bandeira de ser a terra da cultura cametaense, obrigado selo mundo melhor em nome todos os juabense.

  3. ESTIVE NESTA VILA EM 2009, PARTICIPEI DE TODAS AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS E RELIGIOSAS, FIQUEI ENCANTADO COM O ORGULHO DAQUELE POVO POR SUA CULTURA. SÃO UM BOM EXEMPLO A SER SEGUIDO. ABRAÇOS FRATERNOS AOS CORDENADORES DO FESTIVAL SEU zÉ NÓBIO E SEU FILHO JANIO.

  4. faz mais de trinta anos que nao vou ao juaba mas lembro com muita saudade desta festa religiosa,meu pai sempre paticipava e ajuda financeiramete nessa festa bela cultural.adorei o site obridado.

  5. Precisamos imortalizar nossa cultura e não deixar que desapareça. A modernidade está sucumbindo de maneira voraz e desenfreada tudo que conhecemos quando criança. Fui criado ao meio a essa cultura e fico em nostalgia ao presenciar tais manifestações que me fizeram por um instante retornar a minha adolescência de brincadeiras à rua e a expectativa das festividades de Nossa senhora do Rosário e São José. Todos que aparecem nas fotos são facilmente identificados, inclusive alguns já não estão entre nós, como o seu Preocópio, um baluarte do Bambaê do Rosário. Aqui fica o meu reconhecimento pelo esforço de todos em manter a Cultura Juabense viva por todos esses anos. Que apareçam outros para dar continuidade antes que haja uma descontinuidade e consequentemente o esquecimento. Parabenizo o SeloMundo pela ação de preservação, continuem com esse belíssimo trabalho.

  6. amo essa vila faz tempo que não vou lá, mas tô morrendo de saudades!!!é sem duvidas um lugar rico em cultura e habitada por pessoas hospitaleiras, fico muito orgulhosa por ter nascido lá. amei a matéria!!!

  7. Amo essa vila de coração, todos as férias eu vou pra lá!Lamento muito pelo tio procópio e Pedrinho
    me emocionei depois de ter visto as fotos deles aí…
    Sou neto do idalino( mais conhecido como jararáca) e me orgulho de ter raízes lá. adorei a matéria!

  8. conheço a vila de juaba e a cultura da vila que é maravilhosa as danças as brincadeira etc.e o lugar que é maravilhoso assim que posso vou visita, a vila um abraço a todos da vila de juaba.

  9. Sem dúvida nenhuma ao assistir a matéria pela internete fiquei emocionado e me sinto muito feliz em saber que também faço parte dessa história, pois jamais esquecerei minhas raizes. Nascir e crescir lá e sempre que posso vou visitá-lo PARABÉNS AOS IDEALISADORES DESSE PROCESSO

  10. foi um prazer esta tão longe e ver que a terra que eu tanto amo esta no seu apogeu esta sendo reconhecida a em todo os paises internacionais

  11. MUITO BOA A MATERIA, FOI COM SE ESTIVESSE LA PRESENCIANDO. JUABA ME AGUARDE! PORQUE DE AGORA EM DIANTE SEMPRE ESTAREI LA! E ESSE POVO SEMPRE ESTARAR EM MEU CORAÇAO. SAUDADES!

  12. Adorei o conteudo do site, ajudou-me muito para terminar minha monografia que é voltado para o comportamento dos adolescente junto a escola publica e a familia.
    Sou de Belém mais sou noiva de um Juabense,conheci a comunidade e adorei por isso fiz minha pesquisa de monografia voltada á comunidade!!!!Fui muito feliz, pois conquistei o que havia almejado….
    obrigada ao povo juabense….

  13. “ADORO ESSE LUGAR MARAVILHOSO,E TENHO ORGULHO DE DIZER PARA TODO MUNDO Q SOU CAMETAENSE PORQ QUEM AMA,PRESERVA.É MUITO LEGAL,GOSTO BASTANTE DAS FESTIVIDADE Q ACONTECE POR LA,MOSTRANDO A NOSSA CULTURA JUABENSE TENHO VONTADE DE PARTICIPAR DO SAMBA DE CACETE,É UMA DANÇA MUITO LINDA ,MINHA VÓ PARTICIPA.BOM GALERA ESPERO Q CONTINUI ASSIM,E Q CADA ANO Q PASSE FIQUE CADA VEZ MELHOR UM ABRAÇO PARA TODOS OS CAMETAENSES”

  14. A todos os Cametaenses e Juabenses um enorme abraço… Foi um grande prazer pra mim que moro em Rondônia passar as férias em Juaba. Durante os dias que passei na vila, usufrui de todo o jeito Paraense, além de ser um povo hospitaleiro, mostra também que é muito rico em sua cultura. Queria deixar aqui meus parabéns pela matéria do site, que me familiarizou ainda mais com a cultura, e não deixar de dizer de novo com uma enorme satisfação no peito que foi um grande prazer e que sentirei muitas saudades das pessoas e das coisas que conheci em Juaba.

  15. Minha terra querida, Vila de Juaba, situada no norte da Amazônia, nordeste do Pará, a 25 km da cidade de Cametá, um celeiro de manifestações culturais que guarda em suas raízes traços marcantes da colonização, por ser lugar de refúgio dos negros africanos, tendo sido a região do Mola (Quilombo) um dos principais focos de resistência; é considerada “terra do folclore cametaense” por apresentar diversas manifestações que se fazem presente no cenário da vila como: O Bambaê do Rosário, Bangüê Pingo de Ouro, O Bicharada, Engole Cobra, a dança dos negros, entre tantas outras, reflete a riqueza cultural de um povo, enquanto cultura nascida da espontaneidade de“caboclos e cablocas” amazônidas, homens e mulheres simples que não medem esforços e nem limites para fazer eclodir no meio em que vivem suas experiências cotidianas, suas histórias de vida e, fundamentalmente sua cultura.

    Por isso hoje mais que nunca devemos direcionar nossos estudos, nossas pesquisas acadêmicas na conscientização e na elaboração de um conceito atuante de cultura local visando sempre à valorização do que é nosso para que essa cultura não seja corrompida, apagando as raízes e as características da comunidade local.
    O SELO MUNDO MALHOR ESTÁ DE BARABÉNS PELO TRABALHO REALIZADO, TIRANDO DO ANONIMATO, O QUE TEMOS DE MELHOR A NOSSA CULTURA, POIS, É COM PESQUISAS ASSIM QUE ENALTECEM E PERPETUAM NOSSAS HISTÓRIAS………

  16. Minha mãe sempre falou do Juaba. Sua terra encantada. Trabalhei no FSESP em 1987 Minha madrinha é Lucia e meu primo é o Pilin, tenho uma grande amiga Nazaré Marques, todos de Cametá. Ouvindo esta ladainha penso quanta riqueza imaterial tem a terrra de minha mãe. E isso me deixa muito orgulhosa. Bons Festejos à todos.

  17. Que felicidade!!! Juaba – minha terra – um celeiro de cultura!!
    Estou muito emocionada (chorando muito, mesmo), pois ver o meu saudoso pai – o Mestre Procópio, que já não está entre nós, fisicamente – ele, um ícone da cultura juabense – se apresentando pela última vez, cantando essa Ladaínha, é uma grande graça!!
    Parabéns por mostrar nossa riqueza cultural ao mundo!! Muito obrigada!!!

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